Conheça as rotas culinárias que estão transformando cidades do interior paulista em destinos imperdíveis e elevando São Paulo ao protagonismo no turismo de experiência gastronômica
O Sabor de São Paulo realizou em março sua quinta edição em Franca, capacitando produtores e promovendo as Rotas Gastronômicas Alta Mogiana, Raízes do Campo e Lagos do Rio Grande. O programa da Secretaria de Turismo e Viagens (Setur-SP), em parceria com Mundo Mesa e Senac, levou jornalistas e agentes de turismo para conhecer 15 estabelecimentos em dez municípios, incluindo fazendas, empórios, vinícolas e restaurantes locais.
Desde 2023, o programa visitou 35 regiões em 13 Rotas Gastronômicas, atraindo 6.110 pessoas para festivais regionais e capacitando 1.170 profissionais. Com 301 municípios mapeados, a iniciativa planeja destacar dez roteiros em 2024.
O sucesso do programa se deve à colaboração entre Setur-SP, Sebrae, Faesp, Senar, prefeituras locais e secretarias estaduais, que juntos criaram uma rede de apoio essencial para pequenos produtores e empreendimentos regionais.
A expedição em Franca revelou a riqueza e diversidade dos estabelecimentos gastronômicos da região, organizados em três rotas distintas que apresentam características próprias e produtos autênticos. Cada uma dessas rotas oferece uma experiência única que valoriza os sabores tradicionais e as técnicas artesanais preservadas por gerações de produtores locais.
Alta Mogiana: Onde o Café é Apenas o Começo
A região da Alta Mogiana, famosa mundialmente por seus cafés de qualidade excepcional, revelou durante o festival uma face gastronômica que vai muito além da tradicional bebida.

Em Santo Antônio da Alegria, Michele Rita Baldo proprietária da marca Quitutes Quero, desenvolveu receitas caseiras que podem se adaptar ao mercado sem perder sua essência. “Comecei fazendo bolachas de coco e nata com receitas da minha família. Hoje, 20 anos depois, criamos mais 28 receitas diferentes, mas o carinho no preparo continua o mesmo”, contou Michele aos visitantes que se deliciaram com os biscoitos de textura perfeita – crocantes por fora e macios por dentro. O que começou como uma iniciativa para complementar a renda familiar tornou-se uma pequena fábrica que produz diversos tipos de bolachinhas e biscoitos de polvilho salgado, todos mantendo o sabor caseiro que conquistou a região.
Ainda na mesma cidade, o estande de Paulo Reis Rissi e sua esposa atraiu filas de pessoas ansiosas para provar os doces caseiros que produzem há mais de 25 anos. O casal exibiu orgulhoso o selo “Feito em São Paulo” conquistado pelos seus tronquinhos de doce de leite com chocolate e coco, após vencerem um concurso com outros 60 produtores. “Aqui tudo é feito como antigamente, sem pressa e com muito cuidado”, explicou Paulo enquanto servia amostras de doce de leite, doces de figo e de batata doce. A história dos Doces Caseiros do Paulinho começou com uma receita tradicional de família – o “tronquinho”, um doce de leite de corte envolto em cacau. Com o tempo, Paulo foi aprimorando a produção e expandiu para vários tipos de doces em calda, cristalizados e doces de leite cremosos.
O trio de doçarias da cidade se completou com Jessica Cristine da Silva Fernandes e sua geleia de mocotó, uma receita que atravessa três gerações de sua família. O que começou como uma forma de complementar a renda familiar hoje produz cerca de 150 quilos de doces por dia. “Minha avó me ensinou que o segredo está no ponto certo e na paciência para mexer sem parar”, revelou Jessica enquanto servia pequenas porções de sua geleia de mocotó com textura sedosa. Conhecida como Geleias e Doces do Cidoca, a empresa também produz doces em calda e doces em corte, mas é a tradicional geleia de mocotó que segue como carro-chefe e grande destaque da produção.
Em Tambaú, Bruno Camarotti apresentou a Usina do Malte, uma experiência completa que une produção de cerveja artesanal, hospedagem e gastronomia. Durante o festival, os visitantes puderam degustar as cervejas do estilo Lager à base de cevada produzidas no local, enquanto Bruno explicava detalhadamente o processo de transformação do malte. “Queremos que as pessoas não apenas provem a cerveja, mas entendam e se conectem com todo o processo”, afirmou. O estabelecimento produz cerveja pilsen e o inovador chope de vinho, além de fornecer barris para eventos e restaurantes locais. O complexo inclui restaurante e pousada, com um diferencial: do salão do restaurante, os visitantes conseguem observar a fábrica em funcionamento, criando uma experiência imersiva completa.
Raízes do Campo: Sabores que Contam Histórias
A rota Raízes do Campo trouxe para o Sabor de São Paulo uma diversidade impressionante de produtos e experiências gastronômicas.

O Restaurante da Tulha, de Ribeirão Preto, apresentou durante o festival sua famosa moqueca de tilápia, preparada com influências das culinárias capixaba e baiana. O prato, servido normalmente à beira de um lago no restaurante instalado em uma antiga fazenda de café, conquistou novos admiradores. A combinação de peixe fresco com leite de coco, azeite de dendê, pimentões coloridos e um toque de coentro resultou em um equilíbrio perfeito de sabores. O restaurante, que funciona desde 1992, oferece um ambiente cercado por natureza exuberante, com um lago de pesca, bar e uma decoração peculiar cuidadosamente elaborada pela proprietária. A história do lugar começou com a piscicultura, em uma propriedade que já foi uma fazenda de café. Entre as especialidades da casa estão a entrada de tilápia frita, bolinhos de peixe e o inovador churrasco de frutos do mar, além da renomada moqueca à moda baiana.
Também de Ribeirão Preto, a Sorveteria do Geraldo encantou os visitantes com sorvetes naturais produzidos exclusivamente com polpa de fruta, sem adição de conservantes ou aromatizantes. Entre mais de 60 sabores disponíveis, destacaram-se o de uvaia (fruta que os agricultores locais lutam para preservar), abacaxi com hortelã e amendoim. “Fazemos sorvete assim desde 1966. Meu pai, Geraldo, me ensinou que qualidade não se negocia”, contou Renato, filho do fundador, enquanto servia casquinhas para uma fila que não diminuía. A tradição de usar apenas ingredientes naturais conquistou gerações de clientes, com destaque especial para os sabores de frutas como figo, frutas vermelhas e a surpreendente combinação de maçã com canela, raridade entre as sorveterias convencionais.

Completando o trio ribeirão-pretano, o Bar Chocolate com Pimenta trouxe para o festival seu premiado prato de filé de tilápia com empanado crocante e camarão à baiana. Rubens Antônio dos Santos, proprietário, contou com orgulho como o bar surgiu após a fundação de um time de futebol com o mesmo nome. “Ganhamos cinco prêmios ‘Comida de Boteco’ e nosso segredo é respeitar o cliente, servindo porções generosas com preço justo”, explicou. O estabelecimento se consolidou como um ponto boêmio onde os visitantes podem apreciar boa música ao vivo enquanto desfrutam de petiscos tradicionais e premiados. Entre as especialidades da casa, destacam-se os “pitéis” que garantiram ao bar diversos prêmios gastronômicos. De terça a quinta-feira, o local oferece um atraente rodízio de petiscos que atrai frequentadores fiéis.
A cerveja artesanal também teve destaque com a Cervejaria Maltvs, de Monte Alto. Os sócios Victor Durigan, Vinícius Ferreira e Alien Viganô apresentaram cervejas batizadas com nomes de bairros da cidade conhecida como “Terra dos Dinossauros”. A Califórnia (American Style Cream Ale), premiada em 2020, foi uma das mais procuradas durante o festival. “Usamos ingredientes de produtores locais e isso faz toda diferença no sabor final”, explicou Victor enquanto servia amostras aos visitantes. Homologada em 2020, a cervejaria tem como marca registrada o uso de produtos locais em suas criações, incorporando frutas da região como goiaba e seriguela. O espaço conta com seis torneiras para consumo, com rotatividade constante de sabores, oferecendo desde pilsen até as elaboradas Juices IPAs. O ambiente acolhedor com várias mesas convida à degustação, e os clientes podem levar a cerveja em barris para consumo em casa. Com destaque a variedade do portfólio da cervejaria, que inclui quatro tipos de Summer Ale, cinco IPAs e seis Juices IPAs.

Em Dumont, Álvaro Veronezi trouxe para o festival os embutidos e linguiças que fizeram a fama da Casa Veronezi. “Minha família produzia linguiça para alimentar os 20 filhos. A receita foi passando de geração em geração, e hoje mantemos o mesmo cuidado artesanal”, contou. Os visitantes se deliciaram com amostras de linguiça frescal temperada apenas com sal e especiarias naturais. A tradição italiana da família, que criava porcos para consumo próprio, evoluiu para um negócio que hoje oferece mais de 90 produtos aprovados para comercialização. A Casa Veronezi mantém uma loja própria onde vende seus produtos, com destaque para a linguiça árabe, que leva trigo e especiarias exclusivas em sua composição.
A Fazenda Vista Alegre, de Barrinha, encantou com doce de leite e queijo produzidos com leite de gado criado organicamente. Eva Maria Guidi Pinotti, proprietária e professora, explicou como o projeto de turismo rural da fazenda se integra à produção alimentar. “Nossos animais são tratados com homeopatia e se alimentam de capim sem defensivos agrícolas. Isso se reflete no sabor do queijo e do doce de leite”, destacou. A professora Maria Helena, que comanda o lugar, mantém uma pequena oficina de queijo branco onde transmite seus conhecimentos de forma didática. A fazenda é um destino perfeito para famílias com crianças, oferecendo criação própria de gado da raça Jersey, além de atrações como escalada, escorregador e um pequeno museu. Os visitantes pagam uma taxa de entrada de R$15, podem desfrutar do almoço por quilo e, para quem deseja prolongar a estadia, há dez quartos disponíveis para hospedagem. É necessário fazer reserva pelo site da fazenda para garantir a visita.
De Mococa, dois estabelecimentos trouxeram experiências sensoriais diferentes. O Senhor Espresso Cafés, instalado em uma casa centenária em estilo art nouveau, ofereceu aos visitantes do festival uma variedade de cafés cuidadosamente selecionados e torrados por Rodrigo Polachini Pereira. “Uso até drone para encontrar os melhores cafés da região, depois torro cada lote respeitando suas características”, revelou Rodrigo, provador, barista e mestre de torra. O casarão, localizado em volta da praça principal da cidade, é o cenário perfeito para a experiência sensorial que Rodrigo proporciona aos visitantes. Lá, os cafés são servidos utilizando diferentes estilos de filtragem e métodos de preparo. Um cardápio explicativo ajuda os clientes a navegar pelas opções, descrevendo o gosto de cada café, seus aromas e gradações de acidez e torra.

Ainda de Mococa, o Restaurante Mirabile apresentou pratos que resultam da tradição familiar de Ana Vera Figueiredo Ferreira, que aprendeu a fazer massas caseiras com sua avó. Durante o festival, a lasanha e as almôndegas foram servidas em pequenas porções de degustação, permitindo aos visitantes experimentar o famoso molho de tomate preparado segundo receita tradicional que fica horas cozinhando em fogo baixo. Fundado pelo casal Marcelo e sua esposa, ambos professores que uniram a paixão pela cozinha e se profissionalizaram, o restaurante tem como destaque o molho de tomate “perfeito”, desenvolvido quase cientificamente pela proprietária. Este molho é a base de quase todos os pratos da casa. Além das receitas tradicionais, o casal inova com criações como o molho de vinagre com cambuci. O ambiente acolhedor, com atmosfera de casa de família, complementa perfeitamente a culinária ítalo-brasileira servida no local.
Lagos do Rio Grande: Tradição que se Renova
A rota Lagos do Rio Grande completou o circuito de sabores apresentados no festival, com destaques para a produção de cachaça artesanal, vinhos e produtos da roça.

Em Itirapuã, a Fazenda Barra Grande impressionou os visitantes ao contar como Maurílio Figueiredo Cristófani mantém a produção da premiada Cachaça Barra Grande usando um engenho movido por roda d’água instalada em 1860. Durante o festival, pequenas doses da cachaça foram servidas, permitindo que o público percebesse os aromas e sabores únicos resultantes do processo artesanal. A fazenda oferece um passeio guiado pela propriedade onde os visitantes podem acompanhar todo o processo de produção, desde o cultivo da cana até o engarrafamento final. A visita inclui a sala de maturação, onde as cachaças descansam em barris de madeira. Além da cachaça, a propriedade também produz fubá de pedra mó, também movido pela energia da única roda d’água ainda em operação na região.
De Ituverava, a Vinícola Marchese Di Ivrea, que existe desde 1889, apresentou no festival três de seus principais rótulos: o tinto Arduíno (elaborado com uvas Sangiovese e envelhecido com ripas de carvalho), o espumante Moscatel (produzido com uvas Moscato Giallo) e o Principe di Ivrea, considerado o primeiro espumante brut rosé de Sangiovese da América Latina. Vinícius Padilha, conduziu degustações harmonizadas com queijos e presuntos crus. “Nossa vinícola une tradição italiana com terroir brasileiro, resultando em vinhos únicos”, destacou. Entre os produtos premiados da vinícola destaca-se o Bianca de Borgonha, que tem conquistado reconhecimento em concursos nacionais e internacionais. A propriedade, que mantém seus próprios vinhedos, conta com um amplo salão para eventos de degustação, que ocorrem regularmente aos finais de semana, atraindo enoturistas de diversas regiões do país.

O Empório Aroeira, de Pedregulho, trouxe para o festival produtos que contam a história de determinação de Davi Cesar Faria Visco. O que começou com uma simples placa anunciando a venda de queijos no portão da fazenda do avô transformou-se em um empório que hoje oferece desde fubá artesanal até galinha caipira embalada a vácuo. “As pessoas paravam para comprar queijo e sempre pediam mais produtos da roça. Foi assim que o negócio cresceu”, explicou Davi enquanto oferecia degustação de queijos frescos aos visitantes. O empório surgiu da produção de queijos iniciada pela família, que produz seu próprio leite. Além dos queijos, entre eles o premiado “Cremosinho”, o estabelecimento produz doces como doce de leite, compotas e até mesmo café torrado (embora não cultivem os grãos na propriedade). O local conta com um pequeno restaurante que incorpora os queijos da casa em diversos pratos. Os visitantes podem escolher entre as mesas internas no andar superior ou aproveitar o ambiente externo no térreo.
Números que Impressionam: O Alcance do Sabor de São Paulo
O Sabor de São Paulo já demonstrou resultados significativos desde seu início. Entre julho de 2023 e novembro de 2024, o programa visitou 35 regiões turísticas distribuídas em 13 Rotas Gastronômicas distintas. A iniciativa mobilizou 6.110 pessoas, que participaram dos diversos festivais regionais promovidos em todo o estado.
Na frente de capacitação profissional, 1.170 pessoas participaram de treinamentos específicos voltados a produtores, profissionais da gastronomia e operadores turísticos. No total, o programa já mapeou 301 municípios paulistas, criando uma rede de conexões entre produtores, estabelecimentos e consumidores.
Para 2024, a Secretaria de Turismo e Viagens de São Paulo programou destacar dez roteiros diferentes, dando visibilidade aos diversos caminhos percorridos pelos alimentos, desde sua produção até chegarem à mesa do consumidor.
Esta nova dimensão do turismo gastronômico paulista beneficia toda a cadeia produtiva local. Hotéis, pousadas, restaurantes e comércio em geral registram aumento no movimento durante os festivais e, posteriormente, com o fluxo de turistas atraídos pela divulgação das rotas.
A Mesa está Posta para o Futuro
O futuro do Sabor de São Paulo parece promissor. A Secretaria de Turismo e Viagens planeja expandir o alcance do programa, destacando novos roteiros e alcançando mais produtores em todo o estado.
O objetivo é consolidar São Paulo como um destino gastronômico de excelência, onde cada região tenha sua identidade culinária reconhecida e valorizada. Para os municípios participantes, o programa representa uma oportunidade de posicionamento turístico diferenciado, baseado em experiências autênticas que conectam visitantes com a história, cultura e sabores genuínos do interior paulista.
Enquanto isso, produtores como Michele Rita Baldo, da Quitutes Quero, já planejam novas receitas. Vinícius Padilha, da Vinícola Marchese Di Ivrea, experimenta novos blends de uvas. E Maurílio Figueiredo Cristófani continua a mover sua roda d’água centenária, produzindo cachaça como seus antepassados faziam.
São histórias e sabores que o Sabor de São Paulo ajuda a preservar e difundir, garantindo que as tradições culinárias do interior paulista continuem a encantar paladares por muitas gerações.
Para quem deseja explorar estas rotas gastronômicas, a dica é acompanhar a programação do Sabor de São Paulo através dos canais oficiais da Secretaria de Turismo e Viagens do Estado. As experiências vão muito além do simples comer e beber – são verdadeiras viagens pelos sabores e histórias que construíram a identidade paulista.
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